Os (Supostos) Hiperdiagnósticos da Geração.com
AVISO: Este texto contém material que pode ser inadequado para alguns leitores.
Quem nós seríamos sem nossos prazeres?
Bom, vejamos os 4 prazeres básicos que todo ser humano possui. Todo ser humano possui desejo de transar; beber; comer e dormir. Afinal são os desejos que a vida necessita. “Reprodução, sede, fome e sono.”
Neste texto, a questão a ser abordada é outra. É o hiperestimulo que acaba causando problemas numa parte específica do cérebro chamada córtex pré-frontal. Essa parte é responsável pelo domínio da atenção.
Como qualquer droga, o vício, ou melhor, a dependência, pode virar uma doença, a depender do nível em que esteja.
Nós “nos permitimos” criar uma doença: o vício do uso de celular, chamado de nomofobia.
Como qualquer dependência, a nomofobia está sendo tratada pela medicina como uma doença – e é o que deve acontecer de fato.
(Nota: Quando aplicamos a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, na minha visão, iríamos ter adolescentes nomofóbicos em todos os cantos. E foi o que de fato aconteceu.)
Por que trago esse assunto, no meio dos 4 desejos mínimos humanos?
Porque é o mais pronunciado na nossa sociedade na época de hoje. E derivado dele, nasce o imediatismo. Nasce também a inquietação e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Há uma parcela da geração revolucionária (que hoje está na meia idade) que acredita que estamos “fazendo diagnósticos em excesso”; especialmente de TDAH, mas também de TEA (Transtorno do Espectro Autista).
A geração revolucionária não vivenciou o que é vivenciado hoje pela geração mais afetada, a geração.com.
A geração.com vivenciou picos de dependência por excesso de uso de celular; vivenciou picos de uso de tecnologia em geral, vivenciou e grande parte e, ainda vivencia o hiperestímulo que os vídeos curtos, os reels (Instagram) e o TikTok fornecem.
O ato de passar para cima para ver um vídeo de gatinho seguido do outro, é uma doença! Especialmente porque não são dois ou três vídeos, são 400 seguidos que o jovem não se dá conta que o algoritmo já o fez levar a assistir 398 vídeos a mais do que era o desejo dele.
Uma novidade: hoje existem novelas – repito – NOVELAS – no formato reels.
Essas novelas são projetadas para criar mais imediatismo e mais dependência.
Elas NÃO possuem intervalo entre as falas - até porquê a geração.com não aguentaria aguardar e passaria o vídeo.
Essas novelas são projetadas para o vício.
(Não que as novelas comuns não sejam).
Mas o potencial de adicção é extremo.
A saúde da geração.com é algo que se vê como delicada, mas essa geração tem seus próprios problemas que foram projetados para afetá-la.
Há um questionamento na sociedade científica de fato de que possamos estar fazendo muitos diagnósticos sem os devidos critérios, mas ao mesmo tempo mais pessoas estão obtendo acesso à médicos especialistas, e à informação, que se tornou essencial para questionar os “hiperdiagnósticos”. A conclusão? Mais pessoas estão expostas a problemas causados pelo celular, e uma gigantesca quantidade de pessoas obteve acesso a cuidados médicos, fazendo o número de diagnósticos crescer exponencialmente. Mas de fato, estamos mais doentes do que em qualquer outra época.
Hoje em dia, não é mais vencer a dependência a alguma droga que é o ápice.
O ápice é vencer a dependência do uso do celular.
Rio de Janeiro,
29 de Dezembro de 2025.
FONTE: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35253285/